Outrora um símbolo da estepe cerealífera, o sisão é hoje quase uma miragem no Alentejo. Ainda no final do século passado, Castro Verde era um dos locais a nível mundial com maior densidade desta espécie. A intensificação da agricultura, o uso de agroquímicos e o aumento do pastoreio, a par de outras ameaças como a proliferação de linhas elétricas e acessos, fizeram com que nos últimos 20 anos se tenha perdido cerca de 80% da população nacional de sisão.

 

Boa parte da degradação devastadora das estepes alentejanas advém de falhas dos sucessivos governos portugueses em cumprir a legislação europeia, perante as quais a SPEA tem atualmente em curso uma queixa à Comissão Europeia.

 

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Um som a esvair-se

Quando estas aves ainda eram as rainhas da estepe cerealífera, no inverno viam-se grandes bandos nas planícies alentejanas, de centenas ou mesmo milhares de sisões. O arrepio de emoção perante estes bandos (aparentemente) infinitos surgia mesmo antes de serem avistados, pois a sua chegada era anunciada pelo som inconfundível das suas asas. Isto porque uma das penas primárias da asa do sisão é mais curta que as restantes, o que faz com que o fluxo do ar se altere quando a ave bate as asas, produzindo um silvo. Esse som, assim como os sistemas de agricultura extensiva que o albergam, estão a desaparecer do nosso país a uma velocidade estrondosa, com o avanço de práticas agrícolas que estão a destruir estas paisagens e a esgotar recursos naturais tão valiosos como o solo e a água. Exemplo disso é o projeto para instalar no Alto Alentejo mais 50 mil hectares de regadio, que irá, paradoxalmente, acelerar ainda mais a desertificação da região. Para travar esta destruição antes que seja tarde demais, precisamos do seu apoio – contribua para a nossa capacidade de defender a Natureza por via jurídica.

 

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Um desafio para os observadores

O sisão é uma ave discreta, pouco maior que uma perdiz, com patas fortes para a caminhada, um dos seus meios de locomoção favoritos. Esta ave facilmente passa despercebida, graças à sua camuflagem: mesmo em plumagem nupcial, os machos são difíceis de encontrar na paisagem, apenas se deixando detetar pelo pescoço preto com duas riscas brancas, único aspeto que sobressai. Um pouco mais fácil é descobri-los através do seu chamamento, um som curto e muito característico que se ouve a alguma distância.

 

Vida social

Na época da reprodução, os machos defendem leques: territórios onde são visitados pelas fêmeas, em que se exibem com malabarismos saltando e batendo as asas enquanto emitem o seu chamamento.

 

sisão macho em salto durante a parada nupcial

 

Depois da cópula, as fêmeas fazem o ninho no chão, na proximidade dos leques e dedicam-se sozinhas à incubação e à tarefa de cuidar das crias. Tal como os adultos, também os ovos passam despercebidos. Entre 3 a 4 por postura, são tão miméticos com a vegetação que é difícil detetá-los mesmo a um passo de distância.

 

Mal nascem, as crias saem do ninho e seguem a mãe em busca de alimento. A fêmea vai avançando pelo terreno, parando frequentemente, e com atenção constante às pequenas crias, que desajeitadamente vão explorando cada cantinho da paisagem. Até aos 3 meses alimentam-se de insetos, uma das razões pelas quais esta ave prefere os pousios ou pastagens para nidificar, pois são ricos em invertebrados como os gafanhotos e escaravelhos. Já os adultos alimentam-se de plantas, preferindo as crucíferas (plantas da família das couves) e as leguminosas, das quais comem os rebentos, folhas e flores.

 

No fim da época de reprodução os sisões juntam-se em bandos e procuram habitats diferentes, como os meloais ou outras culturas agrícolas com plantas verdes, que muito apreciam, e os restolhos, onde passam o inverno. Hoje em dia, são tão escassos que mesmo nesta época propícia avistar um sisão é um golpe de sorte.

 

A última esperança?

Na tentativa de reverter estas tendências, e evitar que o sisão desapareça de vez dos nossos campos, juntámo-nos a parceiros nacionais e espanhóis no projeto LIFE Iberian Agrosteppes. Neste projeto, pretendemos avaliar o estado das populações de sisão, abetarda e águia-caçadeira (ou tartaranhão-caçador), e trabalhar com agricultores para proteger estas espécies e os seus habitats.

 

Ao mesmo tempo, estamos a lutar pelo lar do sisão, as estepes alentejanas, nas instâncias europeias, face às falhas do Estado português em proteger efetivamente as suas paisagens “protegidas” – ações que só são possíveis com a sua ajuda.