A campanha “Salvar o tartaranhão-caçador” já arrancou em Portugal e no oeste de Espanha, com o objetivo principal de proteger os ninhos desta ave ameaçada de extinção, de forma a aumentar o seu sucesso reprodutor e reduzir a mortalidade das crias. Desenvolvida no âmbito do projeto LIFE SOS Pygargus, a campanha conta com a colaboração fundamental dos agricultores.
A campanha tem 4 pilares fundamentais:
- a monitorização do tartaranhão-caçador (também conhecido em Portugal como águia-caçadeira, gavião ou gabilan) nos seus principais territórios de distribuição no oeste Ibérico
- a identificação de ninhos, com vista a garantir a sua proteção
- o resgate de ovos e crias em ninhos cuja proteção não é possível
- a sensibilização e envolvimento dos agricultores, cuja colaboração é essencial para o êxito destes esforços

Ninho protegido ©Filippo Guidantoni/Palombar
Proteger ninhos no campo é prioridade e agricultores têm papel-chave
O tartaranhão-caçador é uma ave migratória que, vinda de África, vem reproduzir-se em Portugal e Espanha entre março e setembro. Em Portugal, esta ave tem um estatuto de ameaça “Em perigo” de extinção, e a sua população diminuiu 80% em dez anos. A espécie tem vindo a sofrer também uma forte tendência de queda em Espanha, onde o seu estatuto é “Vulnerável” e está atualmente em revisão.
Esta ave de rapina nidifica no solo, sobretudo em campos agrícolas com cereais ou forragens, e depende também desse habitat para se alimentar. Dada esta dependência, uma ameaça importante a esta espécie é a perda de habitat, devido ao declínio acentuado da área semeada com cereais e passagem para outras culturas permanentes, ou outros tipos de uso do solo. A substituição das áreas de cereal para grão por forragens e as alterações climáticas aumentaram significativamente as atividades de ceifa durante o período de nidificação desta espécie, com forte impacto nos casais reprodutores por destruição involuntária dos ninhos e aumento das taxas de predação.
A colaboração dos agricultores com os conservacionistas e cientistas é, por isso, essencial para ajudar na identificação dos ninhos e permitir a implementação de medidas no terreno para os proteger e reduzir ameaças, como a instalação de vedações para garantir a sua salvaguarda durante as atividades agrícolas e evitar ataques de espécies predadoras, como a raposa, por exemplo.

Ninho protegido com tartaranhão-caçador fêmea pousada ©Palombar
Agricultores que protejam a espécie têm benefícios: no campo e através de apoio agroambiental
Esta espécie é uma verdadeira aliada dos agricultores. Durante o período de reprodução, um único casal de tartaranhão-caçador ingere mais de 1 000 animais prejudiciais às culturas agrícolas, como insetos, pequenos roedores e aves. Com esta espécie nos campos, há um maior potencial produtivo das culturas e equilíbrio ecológico. Além disso, os agricultores que colaboram e protegem os ninhos de tartaranhão-caçador nos seus terrenos podem obter um apoio agroambiental do Estado.
Não é viável proteger o ninho? Resgatamos os ovos e crias
A campanha visa garantir a proteção dos ninhos no meio natural, permitindo aos casais nidificar naturalmente e às crias desenvolverem-se, crescerem e vingarem no campo. Contudo, quando isto não for possível, as equipas do projeto irão resgatar os ovos e/ou crias para os salvar. Os ovos serão incubados artificialmente em instituições e centros especializados, em Portugal e Espanha. As crias, quer sejam provenientes dos ovos incubados artificialmente, quer resgatadas nos ninhos, serão, depois, transferidas para um programa de cria em cativeiro nos respetivos centros/instituições, para que aí se possam desenvolver.

Crias de tartaranhão-caçador resgatadas ©Palombar
O que acontece às crias resgatadas
Quando atingirem a idade indicada, os indivíduos resgatados serão integrados num programa de hacking: as crias serão colocadas numa estrutura instalada no meio natural onde se irão desenvolver até, pelo menos, aos 45 dias de idade. Durante esse período, as crias irão adquirir aptidões vitais, como caçar para se alimentar, identificar perigos e interagir com o meio natural até, por fim, serem libertadas de forma gradual e em segurança. Nessa estrutura, são assegurados todos os cuidados necessários e a monitorização, evitando-se ao máximo o contacto com humanos. Haverá também tataranhões-caçadores tutores que ajudarão as crias a ganhar autonomia para poderem ser devolvidas à natureza com sucesso. Os tartaranhões-caçadores integrados neste programa serão anilhados e equipados com dispositivos GPS/GSM para garantir a sua monitorização a médio/longo prazo e obtenção de informação valiosa para a sua proteção.

Juvenil com dispositivo GPS-GSM ©Palombar
Este programa visa recuperar e reforçar a população desta ave numa área específica, tomando partido da predisposição desta espécie para estabelecer o território de reprodução no mesmo local onde nasceu ou passou as primeiras semanas de vida.
Rede “Amigos do tartaranhão-caçador”: todos contam para salvar esta ave
Salvar o tartaranhão-caçador em Portugal e no oeste de Espanha é uma tarefa hercúlea que exige colaboração cidadã e multissetorial. Por isso, no âmbito deste projeto, está também a ser criada a Rede “Amigos do tartaranhão-caçador”, à qual todos se podem juntar: agricultores que queiram ajudar a salvar o seu aliado nos campos; voluntários que queiram apoiar as equipas durante as ações no terreno, como as campanhas de salvamento; entidades, empresas e pessoas que possam financiar ações.
Adira à rede e seja parte ativa nesta missão comum para salvar esta espécie em risco de desaparecer!
Como ser “Amigo do tartaranhão-caçador”
Envie um email para lifesospygargus@palombar.pt