Temos recebido algumas perguntas dos nossos sócios e seguidores, relativamente à nossa campanha Noite com Vida, em que estamos a angariar fundos para salvar aves marinhas e reduzir a poluição luminosa, e na qual por cada 10€ angariados apagaremos um candeeiro de rua, por uma noite, num apagão simbólico. Neste artigo, procuramos responder a essas dúvidas.

 

Então, mas querem desligar a eletricidade toda?

Não! Queremos apenas desligar os candeeiros de rua, durante uma noite, para mostrar como a Madeira é todas as noites inundada por luz artificial em excesso. Por uma noite, os madeirenses poderão ver a via láctea, e dormir melhor — não só por saberem que as aves marinhas estão seguras, mas também porque os ritmos biológicos dos humanos não terão de enfrentar a poluição luminosa.

 

A iluminação pública é responsabilidade das Câmaras Municipais. Porque é que são precisos donativos para apagar as luzes?

Ao apagar um candeeiro por cada 10€ angariados, queremos mostrar aos decisores políticos o quanto a poluição luminosa preocupa os cidadãos, e que é urgente implementar iluminação pública mais eficiente: quanto mais pessoas contribuírem, maior será a dimensão do apagão. Na prática, os donativos irão ajudar a financiar todo o nosso trabalho de combate à poluição luminosa, desde salvar cagarras até trabalhar com empresas e municípios para desenvolver e implementar melhores soluções de iluminação.

 

Apagar as luzes não é solução!

Pois não, este apagão é um ato simbólico, não é uma solução permanente. Na maioria dos casos a solução é criar e implementar iluminação mais eficaz, direcionada para onde é realmente necessária, que não desperdice energia nem incomode pessoas e animais. Nalguns casos, poderão existir luzes desnecessárias, ou que não precisem de estar acesas toda a noite — e apagá-las pode salvar aves, poupar energia e melhorar a saúde pública. Mas para implementar essas soluções precisamos de mostrar aos decisores políticos que os cidadãos estão preocupados com a poluição luminosa — é para isso que serve este apagão.

 

Desligar as luzes é perigoso, vai aumentar os assaltos

Quem nos dera que resolver o problema do aumento da criminalidade fosse tão fácil como ligar as luzes… Infelizmente, é uma questão social complexa, que requer soluções que vão muito além da iluminação. Além disso, não estamos a sugerir que se acabe com a iluminação pública; o que propomos é eliminar luzes desnecessárias, e apagar algumas luzes nos locais, dias e horários mais críticos para as aves. E, embora possa parecer contra-intuitivo, na verdade estudos recentes no Reino Unido mostram que desligar as luzes à noite (entre a meia-noite e as 5h) não só não aumentou a criminalidade, como na verdade diminuiu alguns tipos de crimes, como os assaltos a automóveis. Mas mais do que apagar as luzes, o que queremos é que os candeeiros iluminem a via pública onde são necessários, e não desperdicem eletricidade a iluminar o céu.

 

Melhorar a iluminação pública é assim tão difícil?

É um processo complexo, que envolve criar legislação a nível regional, e criar e implementar, para cada município, um Plano Diretor de Iluminação Pública que ajude a uma melhor gestão da iluminação pública e a alcançar poupanças, assegurando uma maior eficiência energética. Além da informação técnica que é preciso recolher e apresentar para fundamentar essas decisões, é preciso vontade política, que será tanto maior quanto mais os cidadãos demonstrem preocupar-se com a questão da poluição luminosa.

 

Porque são precisos apagões?

Ao realizarmos apagões nos locais, dias e horários mais cruciais, podemos criar uma espécie de “via verde” segura em direção ao mar, para que as aves marinhas jovens possam sair dos ninhos sem ficarem encandeadas.

 

Se as luzes LED são mais eficientes, porque querem reduzir o número de candeeiros?

Apesar de mais eficientes, as luzes LED continuam a emitir iluminação artificial e a afetar a biodiversidade. Neste momento estamos a implementar luzes LED mas de cor mais amarela, menos nefasta para os animais e também mais confortáveis para o ser humano. Além disso, ao reduzirmos o número de candeeiros (nos locais onde não são necessários), estamos também a aumentar a poupança energética e financeira de todos os cidadãos.

 

O dinheiro vai só para a Madeira?

O apagão correspondente ao valor angariado será na Madeira, mas os donativos revertem para o projeto LIFE Natura@night, em que trabalhamos na Madeira, Açores e Canárias para salvar aves marinhas e reduzir a poluição luminosa. É com estes objetivos em mente que trabalhamos tanto na Madeira como nos Açores, e nos aliamos neste projeto a parceiros que o fazem nas Canárias – em cada arquipélago as ações específicas são adaptadas à realidade local, mas o nosso empenho em proteger aves marinhas e reduzir a poluição luminosa é igual em todos eles.

 

Como é que são escolhidos os candeeiros de rua a desligar?

Desligar iluminação é sempre um tema complexo. Em primeiro lugar temos de ter a certeza que as alterações na iluminação pública (quer sejam definitivas, quer sejam em apagões pontuais) não acarretam dificuldades à população – essa é sempre uma das nossas principais preocupações. Em seguida, e com a informação resultante das várias campanhas de resgate desenvolvidas por voluntários, com a localização das principais colónias e também com os dados proveniente de pequenos aparelhos GPS colocados nas aves, identificamos as principais “áreas sensíveis”, ou seja, áreas que tendem a ser mais problemáticas para as aves marinhas. Áreas com muita luz e perto de colónias são as áreas com maiores números de aves resgatadas por voluntários e serão sempre a nossas áreas prioritárias para as intervenções.

 

Que tipo de estudos fazem para investigar o efeito da poluição luminosa nas espécies?

Com os dados das campanhas de resgate de aves marinhas (que decorrem anualmente) estamos a identificar as luminárias mais prejudiciais. Além disso, através de GPS estamos a acompanhar os seus voos junto à costa; prospetamos novas colónias e aumentamos a informação sobre a distribuição e tamanho populacional das espécies de aves. Para os insetos e morcegos, além de um levantamento das espécies presentes nas áreas protegidas, vamos realizar estudos da influência dos vários tipos de luzes. Desta forma, podemos aferir que tipos de luminárias mais afetam a biodiversidade noturna e assim, efetuar alterações na iluminação pública nas zonas mais críticas.

Esperamos que estas respostas ajudem a esclarecer o que pretendemos, e que tenha ficado com vontade de contribuir para uma Noite com Vida!

 

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