A partir de hoje, 15 de fevereiro de 2023, é ilegal usar munições de chumbo em todas as zonas húmidas, e nos 100 metros em seu redor, nos 27 países da União Europeia (UE) e ainda na Islândia, Noruega e Lichtenstein. Com esta legislação em vigor, estima-se que serão salvas anualmente cerca de 1 milhão de aves aquáticas que, atualmente, morrem de envenenamento por chumbo – um marco pelo qual vimos a lutar, na parceria BirdLife, há mais de 20 anos.

 

O chumbo é um metal pesado altamente tóxico. Com a entrada em vigor deste regulamento comunitário (após terem sido dados 2 anos aos países da UE para se prepararem para a alteração), salvam-se as vidas de aves aquáticas e trava-se a contaminação por este metal pesado nos ecossistemas e na vida selvagem das zonas húmidas. A exposição ao chumbo pode também ter consequências graves para as pessoas, especialmente as crianças.

 

Apesar dos riscos, e de já existirem alternativas a preços competitivos, a utilização de munições de chumbo continua. Estima-se que essas munições estejam a poluir as zonas húmidas europeias com 4000 a 5000 toneladas de chumbo anualmente.

 

A munição usada na caça às aves aquáticas contém pequenos bagos de chumbo, que após o disparo são dispersados, acabando por se acumular no fundo dos estuários, lagoas, pauis, barragens, açudes e arrozais. As munições de chumbo são particularmente problemáticas para aves aquáticas que ingerem os bagos de chumbo, por os confundirem com pequenas partículas de pedra ou areia. Estas aves engolem pequenos grãos de pedras para agirem como dentes na sua moela, e facilitarem a digestão.

 

A proibição que hoje entra em vigor irá também diminuir o envenenamento secundário de aves de rapina e espécies necrófagas, que são frequentemente envenenadas por se alimentarem de presas contaminadas com munições de chumbo. Haverá ainda uma redução do risco de envenenamento por chumbo das pessoas que consomem regularmente carne de caça.

 

Na SPEA, temos trabalhado intensamente com parceiros nacionais e internacionais, com as instituições europeias e com a tutela e as confederações de caçadores em Portugal durante os últimos 20 anos para que o uso deste tipo de munição perigosa seja proibido.

 

De acordo com Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA, “Já se proibiu o chumbo nas canalizações, tintas, baterias, combustíveis e praticamente em tudo o resto há várias décadas, por isso não fazia qualquer sentido continuar a ser permitido às atividades cinegéticas espalharem chumbo nas zonas húmidas – havendo alternativas. Com esta nova legislação, a UE deu resposta a uma parte significativa do problema. Agora esperamos que Portugal garanta que a proibição seja efetivamente implementada.”

 

No nosso país, até aqui apenas era proibida a utilização de munições com chumbo na caça em zonas húmidas, dentro de uma lista limitada de áreas protegidas. No entanto, a aplicação e fiscalização desta norma esteve sempre envolta em dúvidas e dificuldades. O regulamento comunitário que hoje entra em vigor alarga a proibição a todas as zonas húmidas. É uma legislação europeia de aplicação direta a todos os cidadãos. Ou seja, a partir de hoje é proibido o uso de munições de chumbo em todo o tipo de caça em todas as zonas húmidas, até 100 metros em seu redor.  Mas, para uma efetiva aplicação e fiscalização deste Regulamento em Portugal, a C6 entende que é importante clarificar. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática, que tutela a caça, deve promover as necessárias adaptações na legislação da caça, para ficar claro para os caçadores e para as entidades fiscalizadoras que não podem ser usadas munições com chumbo em qualquer tipo de caça em todas as zonas húmidas. Se isto não for feito, corremos o risco de incumprimento da norma Europeia, com todas as consequências negativas que daí podem advir.

 

Infelizmente, a proibição não vai além das zonas húmidas. Os projéteis de chumbo na caça e no tiro desportivo, bem como o uso de chumbo na pesca, irão continuar a envenenar o ambiente. Mas isso pode mudar em breve. A Agência Europeia dos Produtos Químicos avaliou os riscos de saúde e ambientais destas atividades e apetrechos e concluiu que se justifica uma restrição a nível da UE.

 

A C6 e os seus parceiros europeus continuarão a trabalhar para garantir que Portugal e a Europa tenham o ambiente não-tóxico que merecem.