O abutre-preto Aquis nasceu esta primavera no Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI). Era ainda demasiado jovem para voar quando a equipa multidisciplinar contratada pelo projeto LIFE Aegypius Return o retirou do ninho para verificar o seu estado de saúde, anilhar e equipar com um emissor de GPS. O plano era devolver o Aquis ao ninho logo de seguida. No entanto, uma protuberância sobre o olho deixou a equipa técnica preocupada com as possíveis causas daquela massa e o jovem abutre-preto foi transferido para o CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco. Após cirurgia e reabilitação, Aquis foi libertado esta terça-feira. Devolvido à natureza, Aquis tem posto em práticas as suas habilidades de voo, explorando a área onde foi libertado, junto ao Campo de Alimentação de Aves Necrófagas.

 

Desde o início da época de reprodução, as equipas de monitorização do LIFE Aegypius Return e outras organizações parceiras (o ICNF e a Quercus no PNTI e a Rewilding Portugal na Serra da Malcata) têm acompanhado os casais de abutre-preto e o crescimento das crias, nas quatro colónias existentes em Portugal. Aquis foi uma das 15 crias de abutre-preto marcadas este ano. A operação de marcação envolve técnicos especializados, desde escaladores experientes a veterinários e biólogos de conservação. É levado a cabo um exame ao estado de saúde da ave e são recolhidas amostras biológicas, que permitem saber o sexo das crias e recolher importante informação genética e toxicológica, entre outras.

 

A partir de uma distância segura, usando telescópios, os nossos especialistas determinam o momento certo para marcar as crias no ninho, um cálculo complexo, uma vez que a ave deve ser suficientemente grande para suportar o transmissor GPS, mas ainda incapaz de voar para evitar que salte prematuramente do ninho.

 

Em julho, a equipa concluiu que o abutre-preto Aquis estava pronto para ser marcado e preparou a operação para o retirar do ninho. O jovem abutre recebeu o nome Aquis que significa “água” em latim, em homenagem ao local do seu ninho, Águas de Verão (Castelo Branco). Mas ao examinar Aquis, a equipa de monitorização ficou surpreendida com uma grande massa sobre o olho da ave. Sem conseguir determinar a causa da protuberância, a equipa decidiu encaminhar a jovem ave para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), gerido pela Associação Quercus.

 

Ao chegar ao CERAS, o Aquis foi submetido a cirurgia pela equipa veterinária. Com as amostras biológicas recolhidas, foi efetuada uma análise laboratorial de histopatologia (relacionada com doenças nos tecidos) e testada a varíola aviária. Aquis teve sorte. Os resultados indicaram um processo inflamatório extenso associado a colónias de bactérias, mas não foi encontrada nenhuma infeção viral, incluindo varíola. Para garantir que a ave recuperava totalmente antes de regressar à natureza, Aquis foi mantido em cativeiro com o mínimo de contacto humano possível, para permitir que mantenha as suas características silvestres. Embora algumas semanas após a cirurgia a inflamação estivesse já ultrapassada, a equipa do CERAS decidiu esperar até que a ave pudesse voar de forma independente.

 

No dia 19 de setembro de 2023, o abutre-preto Aquis foi libertado no Parque Natural do Tejo Internacional num evento que contou com a participação da SPEA (parceiro responsável pela monitorização da colónia do Tejo no âmbito do LIFE Aegypius Return), Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Quercus. Antes da libertação, a ave foi equipada com um transmissor GPS, que nos permitirá seguir o seu movimento durante as suas aventuras pela Península Ibérica. Desde que regressou ao Parque Natural, tem explorado a zona em torno do local onde foi devolvido à natureza. Será que permanecerá na região?

 

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