Um passeio de manhã cedo ou ao entardecer tem, invariavelmente, as aves como banda sonora. As aves produzem uma incrível variedade de sons, desde simples chamamentos a elaborados cantos. Mas porquê?

 

Marcar território

Aves como o melro, a carriça ou a toutinegra-de-barrete usam um canto elaborado para indicar que o território já está ocupado. A duração, tom e frequência do canto indica aos rivais que o “proprietário” é enérgico, saudável e forte. Embora usem chamamentos com menor complexidade musical, também os mochos, corujas e bufos usam o som para proclamar e defender o seu território; tarefa que cabe tanto a machos como fêmeas.

 

Também nos piscos-de-peito-ruivo tanto macho como fêmea defendem o seu território e anunciam-no através do canto. Em muitas espécies, esta defesa do território é feita sobretudo pelos machos, que juntam a defesa do território com a necessidade de atrair parceira.

 

Atrair fêmeas

Quando um macho canta para marcar o território, está, simultaneamente, a indicar às fêmeas que é saudável, capaz de defender o local, e será um bom pai para os seus filhos. Um exemplo extremo desta prova de esforço é o rouxinol-comum, cujo macho canta incessantemente, noite e dia, durante a época de reprodução.

 

Soar o alarme

Em situações de perigo, como a presença de um predador, muitas aves emitem uma vocalização de alarme, simples e estridente. O melro, por exemplo, emite uma série de “pli-pli-pli-pli-…” metálicos e agudos quando avista predadores como gatos, aves de rapina ou pessoas.

 

Imitar

Algumas aves têm a capacidade de imitar sons, juntando-os ao seu reportório. Ao incorporar essa variedade de sons no seu “concerto”, as aves demonstram inteligência, saúde e adaptabilidade: características que podem ajudar a atrair parceiro ou a deter competidores. Um dos mais famosos imitadores da nossa avifauna é o estorninho-preto, que facilmente engana os observadores de aves menos experientes com vocalizações de águias-de-asa-redonda, corujas-do-mato e papa-figos. Este imitador exímio pode usar a sua habilidade para defender o seu ninho: ao imitar predadores como águias-de-asa-redonda e mochos, mantém outras aves afastadas.

 

Por vezes, as aves podem aprender sons “acidentalmente”, simplesmente por estarem muito expostas a eles. Em meios urbanos podem aprender sons de alarmes de carros ou de maquinaria, por exemplo, sem que isso lhes traga aparentemente vantagens claras.

 

Por outro lado, algumas aves imitadoras trazem-nos sons de outras paragens. É o caso da calhandrinha, que passa o inverno em África: quando vem a Portugal reproduzir-se, permite-nos ouvir vocalizações de aves que não existem na Europa.

 

Chamar os progenitores

As crias fazem chamamentos semelhantes a gemidos, para chamar os pais quando eles se aproximam do ninho.

 

Comunicar

Para além destas funções específicas, as aves usam o som para comunicar muitas outras coisas, como manter o contacto entre indivíduos ou avisar sobre uma nova fonte de alimento. Nestes casos, geralmente usam chamamentos simples com 1 ou 2 sílabas.

 

No seu próximo passeio, desafiamo-lo a tentar descortinar a motivação por detrás dos diferentes sons de ave que ouvir.

 

Mais informação

Aprenda a identificar aves pelo som, neste Curso de identificação auditiva de aves