Quando se passa anos a observar aves em determinada região, vão-se descobrindo sítios “secretos”: locais que poucos conhecem, ou que surpreendem pelas oportunidades de observação que proporcionam. Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA, e um dos autores do guia Onde observar aves na região de Lisboa, partilha três dos seus sítios secretos em redor da capital.

 

Passeio marítimo de Alcochete

 

Nesta vila às portas do Tejo, nem é preciso sair da matriz urbana para ver centenas de aves. O passeio marítimo de Alcochete constitui uma excelente forma de ter acesso às aves do estuário a partir da parte antiga da vila. Na maré vazia, de qualquer ponto do passeio poderá observar centenas de limícolas em alimentação, entre as quais o alfaiate (Recurvirostra avosetta), a tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola), o borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula), o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), o maçarico-galego (Numenius phaeopus), o maçarico-real (Numenius arquata), o fuselo (Limosa lapponica), o milherango (ou maçarico-de-bico-direito, Limosa limosa), a rola-do-mar (Arenaria interpres), o pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina), o maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos), o perna-verde-comum (Tringa nebularia) e o perna-vermelha-comum (Tringa tetanus). A partir do antigo cais do vapor, que entra mais dentro das extensas áreas de vasa do estuário, é possível ver espécies como o flamingo-comum (Phoenicopterus roseus), o colhereiro (Platalea leucorodia) ou o corvo-marinho (Phalacrocorax carbo).

 

Para além da vila, toda a frente ribeirinha do concelho de Alcochete é excelente para a observação de aves, com parte a constituir o limite da Reserva Natural do Estuário do Tejo enquanto outra parte está incluída na Zona de Proteção Especial do mesmo estuário. Particularmente interessantes são as Salinas do Samouco: o maior complexo de salinas do estuário do Tejo, com mais de 400ha de reservatórios, tanques e canais. Este paraíso para as aves aquáticas, em particular limícolas, encontra-se totalmente protegido e dedicado à conservação da Natureza, como compensação pela construção da Ponte Vasco da Gama em 1998. A entrada é paga mas a visita vale a pena, dando acesso ao centro de visitantes, vários trilhos e observatórios de aves, e uma salina-museu. Imediatamente antes da entrada nas Salinas do Samouco, fica a salina do Brito: um local onde é um espetáculo assistir à subida de maré, quando milhares de aves passam por cima da nossa cabeça e procuram refúgio nos tanques.

 

Outro ponto estratégico para descobrir as aves do estuário é o parque de merendas das Hortas. A partir desse ponto, podem-se observar as lamas durante a baixa-mar, e até onde os binóculos alcançarem veem-se milhares de tadornas (Tadorna tadorna), patos-colhereiros, piadeiras (Anas penelope), arrábios (Anas acuta), patos-reais (Anas platyrhynchos), marrequinhas (Anas crecca), flamingos-comuns, alfaiates, tarambolas-cinzentas, milherangos e pernas-vermelhas-comuns. Mais perto da margem podem ver-se limícolas mais pequenas, bem como garajaus-grandes (Hydroprogne caspia) e garajaus-de-bico-preto (ou garajau-comum, Thalasseus sandvicensis). De quando em vez, todas estas aves levantam voo, assustadas por uma águia-pesqueira (Pandion haliaetus), uma águia-sapeira ou um falcão-peregrino (Falco peregrinus).

 

No seu próximo passeio na zona de Lisboa, aproveite para explorar este sítio secreto. Garantimos que não se irá arrepender.

 

Este é o 1º de uma série de 3 artigos sobre 3 sítios secretos para ver aves na região de Lisboa.

 

Leia a parte 2: Canhão da Ota

Leia a parte 3: Paúl de Manique

 

Artigo adaptado do Guia Onde Observar Aves na Região de Lisboa

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