Parecem gatos assanhados, crianças aos gritos, latidos de cães… quem os ouve pela primeira vez raramente imagina tratar-se de um mocho. Mas uma vez identificado, o chamamento dos mochos-galegos torna-se inconfundível. Gritos que ecoam pelos nossos campos quando estes mochos respondem uns aos outros em defesa dos territórios, sobretudo antes de iniciarem a reprodução. Entre o alarido que fazem e a facilidade com que se observam, seria normal pensar que esta espécie está longe de perigo — mas infelizmente, os dados contam outra história.
A mais diurna das nossas rapinas noturnas, o mocho-galego pode muitas vezes ser visto pousado conspicuamente num monte de pedras, numas ruínas ou num muro de pedra, de onde perscruta o solo em busca de presas. Este mocho pouco maior que um melro caça sobretudo insetos e pequenos mamíferos — presas cada vez mais escassas devido à intensificação agrícola e ao uso excessivo de químicos tóxicos.
Além de ter cada vez menos alimento, o mocho-galego tem também cada vez menos locais onde fazer o ninho: as árvores velhas e as construções antigas (com fendas e buracos onde nidificar) são cada vez mais raras nos nossos campos. Nem em movimento está seguro: esta espécie é frequentemente vítima de atropelamento.
O impacto destas ameaças já começou a fazer-se sentir: os resultados do Censo de Aves Comuns revelam que a espécie tem sofrido um declínio significativo nos últimos 20 anos em Portugal. Uma tendência corroborada pelos dados do NOCTUA (censo de aves noturnas), que mostraram um declínio de 50% entre 2010 e 2022. Também os dados internacionais mostram declínios da espécie na Península Ibérica e Europa.
Por enquanto, a banda sonora dos nossos campos ainda é pontuada pelos chamamentos estridentes dos mochos-galegos – mas até quando?
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