A mortalidade das aves monitorizadas atinge os 18%, sendo em grande parte provocada por fatores de origem humana.

 

A época de reprodução de 2025 – a terceira monitorizada de perto pelo projeto LIFE Aegypius Return – aproxima-se do fim. Este ano foram marcadas nove crias de abutres-pretos no ninho, e os trabalhos tiveram destaque na televisão nacional (SIC)!

 

Cria de abutre-preto no ninho

Cria de abutre-preto no ninho ©Álvares Figueira

Álvares Figueira

 

Em Portugal há cinco colónias de abutre-preto

 

O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave de rapina da Europa. Constrói ninhos muito grandes, no topo das árvores. É também uma espécie gregária que se organiza em colónias de reprodução onde as aves mais jovens podem socializar e aprender todos os comportamentos vitais com as mais velhas.

Em Portugal conhecem-se cinco colónias reprodutoras: Douro Internacional, Serra da Malcata, Tejo Internacional, Herdade da Contenda e, a mais recente, Vidigueira/Portel. As colónias são seguidas de perto pelas equipas do projeto LIFE Aegypius Return e entidades colaboradoras desde 2023. Como parte dos trabalhos que visam a conservação do abutre-preto – que detém o estatuto Em Perigo de extinção no nosso país – está a monitorização da reprodução e a marcação de algumas aves com emissores GPS/GSM. Esta tecnologia permite seguir todos os movimentos e comportamentos de forma remota e intervir, em caso de necessidade. É ainda essencial para se compreender e combater os fatores de mortalidade.

 

Colocação de emissor GPS/GSM numa cria de abutre-preto

Colocação de emissor GPS/GSM numa cria de abutre-preto ©Paulo Monteiro

©Paulo Monteiro

 

 

50 abutres-pretos com emissor GPS/GSM

 

Com as marcações de crias concluídas em junho e julho deste ano, o projeto LIFE Aegypius Return atingiu o marco de 50 abutres-pretos equipados com emissores GPS/GSM. No total, foram marcadas com emissor 43 crias no ninho (15 em 2023, 19 em 2024 e 9 em 2025), 2 juvenis reabilitados em centros de recuperação (Zimbro e Gerês), o ancião Aravil e os quatro abutres-pretos que estiveram em aclimatação no Douro Internacional em 2024.

 

Destas 50 aves, 37 estão vivas, nove (18%) já morreram e de quatro (todas nascidas na Serra da Malcata) não se conhece o paradeiro, uma vez que os emissores não se conseguiram conectar à rede GSM para enviar informação.

Dos nove abutres-pretos mortos, apenas três morreram confirmadamente por causas naturais. Uma (de nome Mirante) foi vítima de tiro, outra (com anilha 5J) de envenenamento e outra (de nome Freixo) morreu por colisão com linhas elétricas. A morte dos restantes três abutres permanece sob investigação.

 

A recolha destas informações só foi possível graças ao seguimento remoto das aves marcadas, e à ação célere dos técnicos do projeto e das autoridades portuguesas e espanholas no processamento dos casos de mortalidade detetada.

Felizmente, a informação remota permite também salvar vidas de abutres-pretos que, de outro modo, teriam certamente morrido. Recordem-se, por exemplo, as histórias do Natator, do Pousio, do Medronho e do 5E.

 

Deteção do cadáver do abutre-preto 5J, onde é visível o emissor GPS/GSM

Deteção do cadáver do abutre-preto 5J, onde é visível o emissor GPS/GSM ©ATN

©ATN

 

 

Marcar abutres-pretos: emissores, anilhas e amostras biológicas

 

No contexto do projeto LIFE Aegypius Return, o termo “marcação” não significa apenas a colocação de emissores GPS/GSM. Por questões logísticas, alguns abutres são marcados somente através de anilhas identificadoras, que se colocam nas patas. Caso o abutre seja observado ou capturado no futuro, as anilhas também permitem conhecer a sua origem e história.

Sendo o contacto direto com estas aves bastante raro, complexo, e sujeito a um conjunto de autorizações legais, todas as oportunidades são também otimizadas para a recolha de amostras biológicas, como sangue e penas. Este material é enviado para laboratórios especializados em Portugal e no estrangeiro, para se aumentar o conhecimento científico sobre a espécie (por exemplo, em parâmetros genéticos, bioquímicos e toxicológicos), e se possam melhorar os cuidados veterinários e de conservação.

No total, o projeto LIFE Aegypius Return já anilhou e recolheu amostras de 69 abutres-pretos (19 indivíduos para além dos que receberam emissor GPS/GSM).

Todos estes procedimentos requerem a intervenção de especialistas devidamente credenciados pelas autoridades competentes.

 

Check-up veterinário e recolha de amostras biológicas de uma cria de abutre

Check-up veterinário e recolha de amostras biológicas de uma cria de abutre-preto ©VCF

©VCF

 

 

Uma espécie unificadora

 

A conservação do abutre-preto só é possível através da cooperação entre muitas pessoas e instituições de vários setores de atividade. Exemplo desses esforços conjuntos são a monitorização da reprodução e os próprios trabalhos de marcação, onde a colaboração é evidente.

 

Os parceiros LIFE Aegypius Return agradecem a cooperação de todos os envolvidos na monitorização do abutre-preto: técnicos e vigilantes da natureza do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), Rewilding Portugal, Quercus, e Agentes de Medio Natural (AMN) da Junta de Extremadura e da Junta de Andalucía.

 

Para os trabalhos de marcação decorridos em julho, agradece-se o apoio e participação de:

 

  • Douro Internacional: parceiros Palombar, ICNF – Direção Regional do Norte, equipa veterinária do HV-UTAD (Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Junta de Castilla y León, Parque Natural Arribes del Duero (PNAD), Instituto Mixto de Investigación en Biodiversidad (IMIB, CSIC-Universidade de Oviedo-Principado de Asturias) e BirdWings.

 

  • Tejo Internacional: parceiros SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) e LPN (Liga para a Protecção da Natureza), Alfonso Godino (Hawk Mountain Sanctuary), Samuel Infante, Jade Gava (École Nationale Vétérinaire de Toulouse), CERAS (Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens/Quercus), ICNF – Direção Regional do Centro, João Esteves, Sérgio Saldanha, Daniel Barnett e Catarina Cerquido.

 

  • Vidigueira/Portel: parceiros LPN e VCF (Vulture Conservation Foundation), Herdade do Monte da Ribeira – Eng.ª Mariana Carmona, ICNF – Direção Regional do Alentejo, Jade Gava, Maria Soares (Universidade de Coimbra), Carlos Pacheco, e equipa de reportagem da SIC – Alentejo (Daniela Alves e José Ribeiro).

 

  • Herdade da Contenda: parceiros LPN, VCF, Herdade da Contenda e GNR – Comando Territorial de Beja e Destacamento Territorial de Moura, Jade Gava, Maria Soares, Joaquim Pedro Ferreira (PlaySolutions), Carlos Cruz, José Álvares Figueira, Vítor Condeço, Margarida Rocha, Ana Delgado, Carlos Pacheco.

 

Foto de grupo no Tejo Internacional

Foto de grupo no Tejo Internacional ©Francisca Carreira

©Francisca Carreira

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Projeto LIFE Aegypius Return