Durante o mês de novembro, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) desafia os portugueses a procurar periquitos-de-colar ao fim do dia. Populares como animais de estimação, os periquitos que hoje se encontram à solta em várias cidades portuguesas são provavelmente animais que fugiram do cativeiro, ou seus descendentes. Para perceber se as populações desta espécie estão em crescimento e expansão, a SPEA lançou esta ação de ciência cidadã, que fornecerá informação importante para servir de base ao censo nacional da espécie, a realizar este inverno.

 

O periquito-de-colar (também conhecido por periquito-rabijunco) é uma espécie gregária e muito social, reunindo-se em dormitórios comunais que podem chegar a juntar centenas de aves. É para identificar estes dormitórios que a SPEA pede a ajuda dos cidadãos.

 

“O que pedimos é que as pessoas deem um passeio depois das 16h30, e que depois registem os periquitos que observarem, indo a periquitos.spea.pt” diz Hany Alonso, Técnico da SPEA responsável por esta ação: “Pedimos que tentem também anotar se estão a alimentar-se ou a juntar-se numa árvore para descansar”.

 

Este periquito verde com um colar preto distingue-se de outras espécies pela parte superior do seu bico, que é vermelha, e pela cauda mais comprida, que se nota sobretudo nas penas centrais azuladas. Em voo, o periquito-de-colar destaca-se também pelas penas de voo, mais escuras do que o resto do corpo.

 

Originário da África subsahariana e do sul da Ásia, o periquito-de-colar ocorre em Portugal desde o final dos anos 70. Em 2008, a população nacional desta espécie foi estimada em 270 indivíduos. Desde então a população tem aumentado, havendo uma estimativa mais recente de cerca de 650 periquitos-de-colar apenas em Lisboa. Na capital, a Quinta das Conchas e o Jardim da Estrela são bons locais para observar a espécie, embora possa ser vista durante todo o ano nos parques e jardins da Área Metropolitana. Existem também populações estabelecidas de periquito-de-colar no Porto, em Coimbra, nas Caldas da Rainha e nos Açores. Graças ao clima ameno e ao alimento disponível, têm-se adaptado à “selva urbana”, de tal modo que em caso de expansão significativa podem vir a tornar-se numa ameaça para algumas espécies nativas do nosso país.

 

Esta espécie alimenta-se de frutos, grãos, sementes, bagas e flores. Em Portugal, há registos de periquitos-de-colar a alimentarem-se de citrinos, romãs, figos, nêsperas e azeitonas, assim como de frutos do lodão-bastardo e da catalpa.

 

Apesar de não existirem ainda dados sobre o impacto do periquito-de-colar na biodiversidade nativa do nosso país, em Espanha existem algumas evidências de impactos negativos sobre espécies nativas em locais restritos: o periquito-de-colar compete com morcegos e mochos pelas cavidades das árvores, onde nidifica, e compete com aves frugívoras pelo alimento.

 

Este desafio decorre no âmbito do projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto. O projeto tem como parceiros a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA).

 

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Hany Alonso

hany.alonso@spea.pt