Tão movimentado quanto os grandes aeroportos internacionais, o Estreito de Gibraltar é um corredor aéreo para os milhares de aves que, duas vezes por ano, viajam entre África e a Europa. Em setembro, terminada a época de reprodução e antes que cheguem o frio e as intempéries, muitas espécies rumam a sul. O ponto óbvio para atravessarem o Mediterrâneo, na zona mais ocidental da Europa, é no Estreito de Gibraltar, onde a travessia se reduz a 14 km.

 

Setembro é, então, o mês de excelência para visitar Gibraltar. A partir de meio da manhã, com a subida da temperatura, elevam-se as aves de rapina e outras planadoras. Cegonha-preta e cegonha-branca, bútio-vespeiro, águia-calçada e águia-cobreira estão no auge nesta altura, e veem-se também números consideráveis de milhafre-preto, águia-caçadeira (ou tartaranhão-caçador), águia-sapeira (ou tartaranhão-ruivo-dos-pauis), britangos (ou abutres-do-egito), grifos, francelho (ou peneireiro-das-torres), ógea, falcão-peregrino, gavião e águia-pesqueira. Todos se congregam neste ponto de passagem, de tal forma que mais do que identificar espécies, o prazer passa por deixar-se deslumbrar pela força dos números. Presenciar a passagem de dezenas de milhares de aves é um espetáculo sem par. O desconforto no pescoço ao fim de um dia de cara virada para o céu é, de longe, compensado pelo sorriso e brilho nos olhos.

 

Para quem quer desfrutar do espetáculo da migração, é quase obrigatória uma paragem nos observatórios El Algarrobo (a norte de Tarifa) e Cazalla (a sudoeste de Algeciras). Aqui, se tiver a sorte de apanhar um dia bom, com o vento de feição, poderá observar dezenas de milhares de aves. Para os observadores mais experientes, vale a pena estar atento à hipótese de avistar espécies mais raras, como o grifo-pedrês e a águia-da-pomerânia.

 

Mas a magia ornitológica desta região não se esgota no fluxo impressionante de aves planadoras. A proximidade a África significa também que aqui existe a oportunidade de ver aves típicas desse continente. Exemplo disso são o andorinhão-cafre, identificável pelo uropígio branco e cauda comprida, e o engole-malagueta, que colonizou recentemente o Sul de Espanha. Também aqui poderá encontrar as inconfundíveis íbis-peladas, com os seus reflexos metálicos verdes e roxos, e o seu típico aspeto despenteado, graças às longas penas pretas levantadas na cabeça, que contrastam com a face vermelha, sem penas. Esta espécie encontra-se “Criticamente em perigo”, estando hoje restrita essencialmente ao Norte de África e Médio Oriente. A pequena população no Sul de Espanha é proveniente de um programa de criação em cativeiro que reintroduziu indivíduos marcados e permitiu que a espécie se voltasse a estabelecer em Espanha, onde estava extinta.

 

Na praia de Los Lances, e em La Janda, que já foi a maior lagoa da Península Ibérica, mas que agora se encontra seca e convertida à cultura agrícola, poderá observar diversas aves aquáticas, tanto migradoras como residentes, como limícolas e garajaus.

 

Vale ainda a pena fazer uma saída de barco para ver cetáceos, como baleia-piloto e golfinhos, e aves marinhas, como pardela-balear, cagarra, alcatraz, moleiros e painhos.

 

Este artigo foi publicado na nossa revista Pardela, edição primavera-verão 2022.

 

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