De norte a sul do país, passando pelas ilhas, a história repete-se: em busca do lucro imediato, sem olhar a consequências a longo-prazo, os atentados à Natureza multiplicam-se.

 

Exemplo disso é a Barragem do Pisão, ou, para lhe darmos o nome oficial, o Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato: um mega-empreendimento de centenas de milhões de euros na região de Portalegre. A par da barragem, o projeto inclui uma central fotovoltaica e uma vasta rede de canais de regadio. Essa rede de canais é reveladora: os governantes (nacionais e municipais) têm argumentado que a barragem servirá para abastecimento de água às populações, mas está projetada com capacidade para 50 mil hectares de regadio. Por outras palavras, o uso previsto para rega seriam 65%, comparado com 1% para abastecimento público. 

 

Quando se soma esta informação ao facto de que a barragem que já abastece estas populações – a barragem de Póvoa e Meadas – tem capacidade para abastecer o triplo da população atual, a imagem fica clara: o objetivo da Barragem do Pisão hoje é o mesmo que era quando ela foi inicialmente proposta em 1957 – alimentar as grandes explorações de agricultura intensiva, não as populações. “A nível económico e social não vai trazer benefícios – vai trazer agricultura de escala para exportação, que não contribui em nada para a segurança alimentar. Prova disso é que Portugal nunca produziu tanto azeite como produz hoje, e o azeite nunca esteve tão caro nas prateleiras”, frisa o nosso Diretor Executivo cessante, Domingos Leitão.

 

Assim, para servir os interesses de um punhado de grandes corporações, a proposta é submergir uma aldeia, destruir 58000 azinheiras e sobreiros de um montado que ajudaria a resistir aos efeitos das alterações climáticas, criar necessidades de água numa região já vulnerável à seca, empobrecer os solos e criar potenciais riscos de contaminação por agroquímicos.

 

Para evitar este desfecho, a SPEA e outras organizações não-governamentais apresentaram parecer negativo na consulta pública ao do Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução deste empreendimento. A SPEA apoia também a associação ambiental GEOTA e outras ONGA que colocaram um processo judicial contra a Barragem do Pisão, que teve já o apoio do Ministério Público em toda a linha da nossa argumentação.

 

Sem fim à vista

O conflito de interesses entre o lucro de alguns e o futuro de todos parece não ter fim à vista.

 

“Infelizmente não faltam razões para estarmos apreensivos: mega-projetos agrícolas na Zona de Conservação Especial Comporta/Galé, mega-projetos hoteleiros na Península de Tróia e em Alcochete, a proposta da autoestrada Bragança-Sanábria, em pleno Parque Natural de Montesinho… enquanto a prioridade for o lucro imediato mesmo em nome de políticas “verdes”, organizações como a SPEA vão continuar a não ter mãos a medir”, conclui Domingos Leitão.

 

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