Para as nossas florestas, zonas costeiras e rios, uma Lei de Restauro de Natureza ambiciosa poderá fazer a diferença – para bem das pessoas.
Este é o 3º e último artigo da nossa série “Como uma lei pode salvar…” – Leia também a parte 1 (florestas) e a parte 2 (zonas costeiras)
Rios e cursos de água
No que toca aos nossos rios, uma Lei de Restauro da Natureza eficaz poderia ser o ímpeto para se enfrentar a realidade: “Uma barragem num cenário de alterações climáticas tem uma utilidade extremamente reduzida, e é altamente prejudicial”, explica Domingos Leitão. Pode parecer contra-intuitivo, e vai certamente contra o que tem sido defendido em Portugal, mas as evidências são tais que noutros países da Europa e da América já começaram a ser demolidas barragens. Num regime de chuvas cada vez mais torrenciais, como se prevê em consequência das alterações climáticas, a barragem pode encher rapidamente num ano muito chuvoso, mas essa água irá arrastar consigo sedimentos, que ficam retidos no fundo da barragem. O impacto é duplamente negativo. Por um lado, esses sedimentos nunca vão chegar à costa, diminuindo a capacidade de a costa suportar a subida do nível do mar. Por outro, com a acumulação sucessiva de chuvadas, os sedimentos vão acumular-se no fundo da barragem. “Portanto nem temos proteção da orla costeira, nem temos armazenamento de água – porque a barragem está cheia de sedimentos – nem temos o rio a funcionar” remata Domingos Leitão.
Uma boa Lei de Restauro de Natureza lidará também com outro problema posto pelas barragens e açudes: o seu efeito de barreira. Um exemplo dos benefícios que daí poderiam advir chega-nos do Mondego. Ali, foram restauradas passagens em açudes e barragens, para permitir que os peixes subam o rio sem ficarem retidos face a estas paredes intransponíveis. Foram ainda restauradas as margens do rio. Graças a esta intervenção, peixes migradores como o sável e a lampreia (que precisam de subir os rios para se reproduzir) usam agora 60km de rio, em vez dos 15km a que tinham ficado limitados. Como resultado, a quantidade destes peixes aumentou substancialmente: atualmente, em anos bons, 20 mil lampreias chegam a subir o Mondego. Um sucesso ecológico, sem dúvida, mas também económico, já que a lampreia é um dos peixes mais valorizados na economia sazonal turístico-gastronómica da região.
Como diz Domingos Leitão, exemplos como a lampreia do Mondego ou as Terras do Priolo mostram o que o restauro da Natureza pode fazer pelo nosso futuro:
“Ninguém vai ficar multimilionário, mas muita gente vai beneficiar, e por muito tempo. Sustentabilidade é isto.”
Este é o último de uma série de 3 artigos sobre 3 ecossistemas para os quais uma boa Lei de Restauro da Natureza pode fazer a diferença.
Leia a parte 2: zonas costeiras