Para as nossas florestas, zonas costeiras e rios, uma lei de restauro de Natureza ambiciosa poderá fazer a diferença – para bem das pessoas.

 

Zonas costeiras

 

No Barreiro, junto ao Tejo, jaz abandonada uma antiga fábrica: a Quinta Braamcamp. Por entre as ruínas de edifícios e moinhos de maré, observam-se tarambolas, borrelhos, garças… dezenas de espécies de aves que indiciam o que este espaço poderia ser. Uma lei de restauro de Natureza forte poderia levar a Câmara Municipal do Barreiro, que é dona do espaço, a retirar estas infraestruturas e repor a duna original. Criava-se um refúgio natural às portas da cidade. Reduzia-se o risco de cheias. E aumentava a resiliência do local às alterações climáticas. O cenário repete-se ao longo da nossa costa: dunas e arribas? que podem, com a intervenção certa, voltar a desempenhar o seu papel de proteção face à subida do nível do mar.

 

Ao longo dos tempos, a orla costeira sempre avançou e recuou consoante o nível do mar. Ao instalarmo-nos diretamente sobre a linha de costa, basicamente garantimos que mais cedo ou mais tarde, o mar iria entrar nas nossas infraestruturas. Ao mesmo tempo, tudo o que fizemos para “conquistar” esses locais – desde os edifícios que construímos às plantas e estruturas que inserimos para segurar as terras – retirou à nossa costa a capacidade de se moldar ao mar. Esta tensão só vai ser agravada pelas alterações climáticas. A não ser que façamos um esforço para restaurar a dinâmica da nossa costa.

 

“Em termos de restauro da costa, o que há para fazer em Portugal é colossal”, diz Domingos Leitão. Passa por retirar infraestruturas que travam a maleabilidade da costa. E passa também por remover plantas invasoras que causam o mesmo problema, e repor a vegetação nativa. Para ilustrar a dimensão da intervenção necessária, Domingos Leitão dá o exemplo da costa sudoeste do país: “É um parque natural, e está coberto de chorão e acácia, que são espécies invasoras. Uma lei de restauro de Natureza ambiciosa tornaria prioritário recuperar áreas como essa.”

 

Outras áreas com um papel crucial na proteção da costa, e que a lei de restauro de Natureza poderia beneficiar, são as Ilhas Barreira da Ria Formosa e da Ria de Aveiro. Como o nome indica, estas ilhas formam uma barreira face ao mar, permitindo que, atrás dela, se forme a ria: um refúgio que pode servir de viveiro para uma enorme variedade de peixes e moluscos.

 

Na Ria Formosa, restaurar as Ilhas Barreira (como estamos a fazer no projeto LIFE Ilhas Barreira) é não só proteger um ecossistema importante para várias espécies ameaçadas e para o turismo, mas também salvaguardar o futuro das pescas — “não só ali como fora dali”, salienta Domingos Leitão. Em Aveiro, com uma lei de restauro de Natureza forte, poderíamos finalmente deixar de desperdiçar dinheiro a tentar segurar dunas que precisamos que sejam móveis, e ao invés investir na recuperação das ilhas barreira e na resiliência da costa a longo-prazo, argumenta.

 

 

Este é o 2º de uma série de 3 artigos sobre 3 ecossistemas em que uma boa Lei de Restauro da Natureza pode fazer a diferença.

 

Leia a parte 1

Leia a parte 3

 

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