Para as nossas florestas, zonas costeiras e rios, uma lei de restauro de Natureza ambiciosa poderá fazer a diferença – para bem das pessoas.
Florestas nativas
O nordeste da ilha de São Miguel, nos Açores, é prova viva de que o restauro de Natureza resulta, e dá frutos. Depois de mais de 15 anos de trabalho intenso por centenas de técnicos e voluntários, com o apoio de financiamento europeu e regional, a luxuriante floresta Laurissilva voltou a singrar aqui, e com ela não só o priolo mas também as comunidades locais. Além do investimento direto na região, a Laurissilva e o priolo tornaram-se chamarizes para turistas, alimentando a economia local: dezenas de negócios, desde alojamentos a restaurantes, servem agora aqueles que, ao visitar os Açores, fazem questão de vir procurar o priolo a este cantinho de São Miguel.
Mas esta história ainda não chegou ao fim: os trabalhos nas Terras do Priolo continuam, para garantir que as plantas invasoras não voltam a ganhar raízes na zona, e que a vegetação nativa consegue vingar. E há outras zonas dos Açores a precisar de esforços hercúleos para repor o esplendor da Laurissilva. Esforços que uma lei de restauro da Natureza ambiciosa poderia potenciar: se obrigar os governos a restaurar uma percentagem das suas áreas naturais, e prever orçamento para atingir essa meta, a lei permitirá que mais entidades ponham mãos à obra para recuperar a Laurissilva açoriana.
Em Portugal continental, a lei europeia poderá transformar os esforços de recuperação depois de incêndios florestais. Por exemplo, depois dos incêndios devastadores na região de Pedrogão, algum do restauro que se está a fazer é com plantas nativas. Mas há áreas em que o que está a ser plantado são novamente eucaliptos e pinheiros-bravos – espécies que não são nativas da nossa flora, e não têm a mesma resistência ao fogo. E há áreas que permanecem abandonadas. Eventualmente, poderão voltar a ser ocupadas por floresta nativa, mas essa recuperação poderia ser muito mais rápida com uma ajuda humana. Uma lei que incentive o restauro de Natureza pode contrariar a tentação de repetir os erros do passado.
“O Centro e Norte do país tem muitas zonas que tentaram ser zonas de produção de eucalipto e pinheiro e falharam – zonas que não têm utilização económica como floresta de produção, mas podem ter como floresta que capta carbono, que promove o turismo e o bem-estar”, diz o nosso Diretor Executivo, Domingos Leitão.
Numa altura em que se fala cada vez mais no mercado de carbono, e em que os médicos de vários países receitam já o contacto com a Natureza como tratamento, as nossas árvores nativas podem ser um recurso valioso – sobretudo se tivermos uma lei que valorize e incentive à sua recuperação.
Este é o 1º de uma série de 3 artigos sobre 3 ecossistemas em que uma boa Lei de Restauro da Natureza pode fazer a diferença.