No Parque Natural do Tejo Internacional, uma jovem cria de abutre-preto viveu uma história de sobrevivência digna de destaque. Batizado de Charneco, este abutre-preto (Aegypius monachus) caiu do ninho, foi resgatado e recuperado, regressando meses depois à liberdade — tudo graças à colaboração entre várias entidades envolvidas no projeto LIFE Aegypius Return, do qual somos parceiros.

 

O desaparecimento

Desde 2023, o projeto LIFE Aegypius Return tem acompanhado com detalhe as colónias de abutre-preto em Portugal. No Parque Natural do Tejo Internacional, a maior colónia do país, há cerca de 220 ninhos conhecidos e, em 2024, mais de 60 casais nidificantes. A monitorização é coordenada pela SPEA, com o apoio dos Vigilantes da Natureza do ICNF e da Quercus.

 

Monitorização de abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional

Monitorização de abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional

Milene Matos/VCF

 

Durante o trabalho de campo, os nossos técnicos Paulo Monteiro e João Esteves acompanhavam o desenvolvimento de uma cria na Herdade da Cubeira. A 9 de julho, com cerca de 80 dias, o jovem abutre ensaiava já os primeiros movimentos de voo. Mas poucos dias depois, o ninho estava vazio — e a cria desaparecida. Daí o nome “Charneco”, inspirado no charneco (ou pega-azul, Cyanopica cooki), espécie que é muitas vezes acusada de roubar ovos e crias de outras aves (embora as evidências científicas indiquem que essa fama pode não ser justificada).

 

O resgate

Suspeitando de uma queda, a equipa da SPEA iniciou de imediato buscas na zona. O ninho estava parcialmente danificado e, a cerca de 60 metros, o Charneco foi finalmente encontrado no solo, ainda incapaz de voar.

 

Resgate do abutre-preto Charneco

Resgate do abutre-preto Charneco

João Esteves/SPEA

 

Paulo e João contactaram o ICNF, que disponibilizou Vigilantes da Natureza para apoiar o resgate e transporte da ave até ao CERAS (Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens), gerido pela Quercus. No centro, o Charneco foi examinado por veterinários e não apresentava fraturas nem ferimentos — apenas precisava de repouso e segurança. Permaneceu em recuperação até 19 de setembro, altura em que foi devolvido à natureza, já equipado com um emissor GPS/GSM.

 

Paulo Monteiro/SPEA
Paulo Monteiro/SPEA

De volta à liberdade

No momento da devolução, o Charneco mostrou estar pronto: enérgico, confiante e com um voo firme, levantou voo rumo ao Tejo Internacional. Desde então, continua ativo e fiel ao território, explorando a zona junto ao rio — fazendo lembrar o seu congénere Natator — mas, felizmente, sem novos sustos. Recentemente, os dados do GPS mostraram que o Charneco terá estado a alimentar-se no mesmo local com mais 3 abutres-pretos marcados no Tejo Internacional, reforçando a esperança de que esta seja uma história com final feliz.

 

Mapa dos movimentos do abutre-preto Charneco nos 28 dias após a devolução à natureza

Mapa dos movimentos do abutre-preto Charneco no mês após a devolução à natureza

LIFE Aegypius Return

 

Um sucesso partilhado

O sucesso desta história deve-se ao esforço conjunto de várias entidades e pessoas dedicadas à conservação da espécie. A SPEA coordenou a monitorização e o resgate, o ICNF garantiu o transporte, e o CERAS/Quercus assegurou a recuperação.

 

Os parceiros LIFE Aegypius Return agradecem ainda a presença de todos os que participaram na devolução à natureza do Charneco: ICNF, SPEA, CERAS/Quercus, VCF (Vulture Conservation Foundation), Universidade de Coimbra, Herdade da Cubeira e Sérgio Saldanha.

 

Mais informação

Projeto LIFE Aegypius Return

Abutre-preto