Beatriz Martins

Técnica de conservação marinha, SPEA

910 657 913

beatriz.martins@spea.pt

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) associa-se mais um ano à Campanha SOS Cagarro, coordenada pela Direção Regional de Políticas Marítimas do Governo dos Açores, e convida a comunidade a reduzir a iluminação exterior à noite e a participar nas brigadas de resgate. A SPEA estará a organizar brigadas de resgate de 22 de outubro a 10 de novembro em Vila Franca do Campo, Povoação, Faial da Terra, Nordeste e na ilha do Corvo.

 

Os Açores são um arquipélago crítico para a população mundial do cagarro (Calonectris borealis), com 75% da sua população mundial a nidificar nas nossas costas. Como já vem sendo habitual, entre 15 de outubro e 15 de novembro, acontece a saída dos juvenis dos ninhos, sendo uma época crítica para a sua sobrevivência que se vê ainda mais dificultada pelas alterações que a urbanização das ilhas, principalmente a iluminação artificial à noite lhes coloca.

 

Neste contexto, há mais de 30 anos, que a Direção Regional das Políticas Marítimas, coordena a campanha SOS cagarro, incentivando a sociedade civil a agir para assegurar que essas aves conseguem ultrapassar estas dificuldades e atingir o seu destino no oceano Atlântico. A SPEA há mais de 15 anos, se associa a esta campanha, promovendo o desligar de luzes exteriores e organizando, com o apoio de centenas de voluntários e os parques naturais da ilha, brigadas de resgate destas aves em locais em que tradicionalmente há um elevado número de quedas.

 

“Há muitas formas de salvar um cagarro e cada pessoa pode ajudar à sua maneira” – diz Beatriz Martins, técnica de conservação marinha da SPEA-Açores responsável pelas brigadas em Vila Franca do Campo – “desde desligar as luzes exteriores, levar uma caixa, luvas e toalha no carro para o caso de encontrar um ave, alertar às autoridades se não nos sentimos confortáveis para pegar nela ou até participar nas brigadas que são organizadas pelas várias associações que se associam a campanha.”

 

A redução da iluminação exterior é um gesto simples, mas muito eficaz para reduzir as quedas de juvenis de cagarro, evitando assim que encontremos um cagarro no nosso quintal quando acordamos de manhã, pois é esta luz artificial que afeta as aves e faz com que fiquem desorientadas e possam cair.

 

A Câmara Municipal do Corvo é um excelente exemplo de compromisso com estas aves e de mitigação do impacto da poluição luminosa. Este ano irá desligar completamente as luzes durante quase três semanas: de 21 a 24 de outubro das 00h00 às 5h00, de 25 a 30 de outubro das 21h00 às 5h00 e de 31 de outubro a 5 de novembro novamente das 00h às 5h. Este apagão, que já acontece há 6 anos, tem demonstrado a eficácia desta medida na redução do número de quedas e na mortalidade de aves por colisão.

 

Para fazer parte dos resgates de aves, a SPEA convida a participar nas sessões de sensibilização que irá organizar na Universidade dos Açores, no dia 17 de outubro pelas 17h, e na marina de Vila Franca do Campo, nas instalações da empresa Terra Azul, no dia 18 de outubro pelas 20h. Nestas sessões, a SPEA pretende indicar alguns cuidados a ter na recolha e libertação em segurança destas aves, incentivar à participação na campanha e garantir o registo das incidências junto da Direção Regional das Políticas Marítimas, de modo a melhorar o conhecimento que informe as políticas públicas.

 

“Se registarmos os resgates, podemos identificar os locais mais críticos de quedas e incentivar as autoridades a desligar as luzes públicas nessas áreas no período de saída dos juvenis” – indica Azucena de la Cruz, coordenadora da SPEA-Açores. “Temos a certeza que existem locais onde há quedas, mas que não conhecemos porque as pessoas resgatam, o que já é muito positivo, mas não registam. O registo é importante para promover a diminuição da luz que afinal é um dos fatores que provocam as quedas.”

 

A SPEA, à semelhança de anos anteriores, irá colaborar com a Campanha SOS Cagarro organizando várias brigadas de resgate e apoiando o trabalho do Parque Natural de Ilha na libertação das aves accidentadas na ilha de São Miguel e no Corvo.

 

Na ilha de São Miguel, voluntários da SPEA irão colaborar no resgate e libertação de cagarros na Vila de Nordeste, Vila da Povoação e Faial da Terra e irão organizar brigadas de resgate no porto e marinha de Vila Franca do Campo. É neste último local, devido ao elevado número de aves aí registadas em anos anteriores, que a organização apela à participação de voluntários.

 

Em Vila Franca do Campo, as brigadas de resgate vão decorrer todas as noites, de 22 de outubro a 10 de novembro. A inscrição é gratuita, mas obrigatória e deve ser feita online através do site www.centropriolo.com/soscagarro.

 

“Todos os anos são resgatados centenas de cagarros na marina e porto de Vila Franca do Campo, e o envolvimento de voluntários é essencial para o sucesso dos resgates e para garantir uma nova oportunidade a estas aves desorientadas”, reforça Azucena de la Cruz.

 

Além de participarem nas brigadas noturnas, os voluntários terão também a oportunidade de acompanhar sessões de anilhagem e recolha de dados biométricos dos cagarros resgatados, ficando a conhecer de perto esta espécie tão característica dos Açores. Nas manhãs de fim de semana, será ainda possível participar nas libertações organizadas pela SPEA em Vila Franca do Campo, um momento especial que celebra o objetivo final destas ações: devolver os cagarros ao mar em segurança.

 

Na ilha do Corvo, para além do apagão promovido pela Câmara Municipal, serão organizadas brigadas em parceria com o Parque Natural de Ilha e com muitos voluntários locais que já participam há mais de 15 anos nestas ações, sendo que alguns deles receberam esta semana formação para serem capitães de brigada.

 

“Nos Açores, a queda de cagarros é um fenómeno bem conhecido da população. São muitos os que já o fazem individualmente, salvando e libertando os cagarros ano após ano. A SPEA pretende garantir que todos sabemos o que fazer no caso de um encontro com um cagarro vítima da poluição luminosa e, não menos importante, que todos registem estas ocorrências e o seu desfecho na plataforma SOS Cagarro. Só assim teremos informação robusta sobre o problema e poderemos atuar para o resolver” afirma Azucena de la Cruz.

 

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Mais informação

Campanha SOS Cagarro – Governo dos Açores

Inscrição de voluntários nas brigadas SPEA em Vila Franca do Campo

Projeto LIFE Natura@night