Instalámos recentemente 12 dispositivos emissores de ultrassons para afastamento de gatos em duas das colónias de cagarra (ou cagarro, como é conhecido nos Açores) que monitorizamos na ilha do Corvo desde 2009: no Pão-de-Açúcar e na Reserva Biológica do Corvo. Estes equipamentos foram colocados em zonas com um total de 30 a 40 ninhos e vão ser comparados com colónias sem intervenção, como a da Fonte Velha e do Miradouro.
O objetivo é simples: testar se esta tecnologia pode ajudar a reduzir a predação das crias por gatos, um problema que representa 84% da mortalidade dos cagarros na ilha. Desde 2014, o sucesso reprodutor dos 131 ninhos que acompanhamos no Corvo tem sido, em média, de apenas 51%, e os gatos são uma das principais razões para esse número tão baixo.
Nos últimos dois anos, os ninhos dentro da Reserva Biológica do Corvo – uma área onde o impacto dos gatos tem sido minimizado – tiveram um sucesso reprodutor significativamente mais elevado. Agora queremos perceber se conseguimos replicar esses bons resultados noutras áreas, com a ajuda destes dispositivos que emitem ultrassons.
Esta ação só foi possível graças ao apoio do Município do Corvo, que adquiriu os dispositivos. Com esta colaboração, damos um passo importante para proteger melhor as aves marinhas da ilha e testar soluções viáveis para zonas de nidificação mais expostas à presença de gatos.
Esta é apenas uma parte da solução. A longo prazo, será essencial envolver todas as entidades interessadas e desenvolver um projeto dedicado exclusivamente à mitigação dos predadores introduzidos, como os gatos. Esta experiência poderá servir de base para criar zonas livres do impacto destes predadores, especialmente em áreas restritas e críticas para a conservação.
No final da época de nidificação, vamos partilhar os resultados deste teste. Acreditamos que só com inovação, colaboração e ação concreta conseguiremos enfrentar aquela que é, em terra, a maior ameaça às nossas aves marinhas.